O chá-verde no Processo de Perda de Peso
por Julino Soares (possui mestrado em Medicina Preventiva
pela Universidade Federal de São Paulo e doutorando pelo pela mesma
Universidade. Atua principalmente nos seguintes temas: plantas medicinais, etnofarmacologia
e interações medicamentosas).
O chá-verde no Processo de Perda de Peso
Associado ao problema da fome, temos milhões
de pessoas adoecendo e morrendo por consequência da obesidade. O chá-verde é um
produto constantemente divulgado para a perda de peso, mas quais as suas
propriedades e suas limitações para o tratamento da obesidade?
Entendendo o Problema
De acordo com o relatório da
Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura uma a cada oito
pessoas no mundo ainda passa fome, ou seja, foi estimado que entre 2011 e 2013
existia um total de 842 milhões de pessoas no mundo que ainda sofriam de
desnutrição crônica, não recebendo regularmente comida suficiente para conduzir
uma vida ativa (FAO, 2013).
Por outro lado, a Organização
Mundial de Saúde afirma em relatório que, a cada ano, morrem cerca de 2,8
milhões de pessoas devido ao sobrepeso e a obesidade. A prevalência mundial de
obesidade vem aumentando rapidamente; na região das Américas, o sobrepeso
atingiu 62% para ambos os sexos e a obesidade 26% (WHO, 2012).
A obesidade é caracterizada
por acúmulo excessivo de gordura e aparece como a causa principal de doenças
crônicas, como o diabetes mellitus tipo 2, a hipertensão arterial e o colesterol
alto (WHO, 2008; Carvalho et al., 2006; Douglas, 2002).
Vivemos em um período onde muitas
pessoas estão mudando seus hábitos de alimentação, o que inclui a procura por
alimentos funcionais, na expectativa de uma vida mais saudável e no
enfrentamento de diversos problemas de saúde, como a obesidade. Assim, é
relevante a verificação da alegação de que certas substâncias encontradas nos
alimentos podem estar relacionadas à perda de peso. Dentre essas substâncias, o
chá-verde é massivamente apresentado como um produto para a este propósito.
Conheça o chá-verde
Os “chás” são a segunda
bebida mais consumida no mundo, sendo que o chá-verde perfaz 20% do consumo
mundial dessa bebida (Wolf et al., 2008).
O nome científico (botânico) do chá-verde é Camellia
sinensis (L.) Kuntze (Figura 1). Foi batizada genericamente pelo botânico
Linneé como Thea, termo derivado do
mandarim “tsay”; com a pronúncia “tcha” (Ruiz, 2013). Assim, apenas a C.
sinensis pode ser chamada de chá.
C. sinensis é um
arbusto de origem asiática, a partir do qual são produzidos os chás branco,
oolong, preto e verde. Logo após a colheita, o beneficiamento do chá-verde consiste
em realizar uma infusão com as folhas, o que inibe um processo de destruição de
importantes substâncias da planta, denominado
oxidação enzimática. O que possibilita a retenção de grande parte das
catequinas, uma classe de polifenóis presente em grande quantidade nesse chá. Assim,
após colheita, o grau de oxidação das folhas que são usadas no preparo dos tipos
de chás determina a quantidade de catequinas presente. O chá-branco é o que
possui essas substâncias em maior quantidade, seguido do verde, do oolong e do
preto (Duarte; Menarim, 2006; Matsubara; Rodriguez-Amaya, 2006). No Brasil, seu
cultivo é restrito ao Vale do Ribeira (SP), especialmente para a produção do
chá-preto (Nishiyama et al., 2010).
As quatro catequinas
presentes no chá-verde são (nomes complicados mesmo) epicatequina (EC),
epigalocatequina (EGC), epicatequina galato (ECG) e epigalocatequina galato
(EGCG), sendo esta última, presente em maior quantidade e com maior atividade para
perda de peso. O chá também é fonte de cafeína, podendo conter metade da quantidade
de cafeína presente na mesma medida de café. Isso depende do tempo de infusão,
da quantidade e do tamanho das folhas usadas (Schmitz et al., 2005; Maughan; Griffin,
2003).
Evidências Científicas da Participação
do Chá-verde no Processo de Perda de Peso
Estudos científicos indicam
que o consumo de C. sinensis (chá-verde)
e do seu composto bioativo EGCG contribui na redução do peso e do acúmulo de
gordura corporal em humanos e em estudos com animais (Dulloo et al., 2000; Koo e Noh, 2007; Auvichayapat
et al., 2008).
Os efeitos da C. sinensis podem ser atribuídos
principalmente à interação entre a EGCG e a cafeína contidas no chá ou em seu
extrato, associadas a estímulos no sistema nervoso, resultando no aumento da produção
de calor da e queima de gordura.
Estudos indicam efeitos da C. sinensis na diminuição da digestão e da
absorção de gorduras, o que pode diminuir a quantidade de calorias que chegam
ao nosso organismo. É Importante ressaltar que também houve melhora no perfil
lipídico de ratos, com diminuição no nível circulante de colesterol e
triacilglicerol.
Acredita-se que para
observar esses efeitos, seria necessário o consumo da C. sinensis juntamente com as refeições, pois há necessidade de interação
entre os lipídios da dieta e os compostos bioativos do chá. Entretanto, esta
prática não é recomendada, pois as catequinas apresentam a propriedade de se
ligar a minerais, diminuindo a sua absorção.
Além disso, é relevante a
realização de mais estudos relacionando o consumo do chá e a diminuição na
biodisponibilidade de vitaminas solúveis em gordura, tendo em vista também que
a diminuição da absorção de vitaminas poderia causar deficiências nutricionais.
A realização de mais estudos
em humanos se faz necessária, bem como a determinação da melhor forma de
preparo da bebida, uma vez que os estudos apresentados usaram o extrato do chá
ou a EGCG isolada como parâmetros para verificar as propriedades da C.
sinensis no processo de perda de peso. É relevante também estabelecer uma
dosagem de consumo que seja ao mesmo tempo segura e eficaz.
Nishiyama
et al. (2010), em um estudo com o
chá-verde brasileiro (Camellia sinensis
var assamica), concluíram que para um
melhor aproveitamento das propriedades funcionais seria indicado utilizar o
chá-verde a granel pelo método de infusão por um tempo de até 5 minutos e sob
agitação leve. O uso do chá-verde a granel obteve melhores resultados que o uso
do chá em sachê na extração dos seus compostos bioativos. Os autores também
sugerem a preparação de maiores volumes do chá para uma melhor extração dos
seus compostos, mas utilizando a mesma proporção de água/chá. Os resultados
desse estudo também sugerem que a bebida pode ser armazenada em temperatura
ambiente e em geladeira por até 24 horas, sem aparentes alterações dos seus
compostos bioativos e de suas propriedades antioxidantes, o que possibilita o
consumo ao longo do dia.
Quanto
à quantidade de água e chá utilizada no preparo, Nishiyama et al. (2010) sugerem:
“Uma bebida típica preparada como infusão em água
quente por 3 minutos de 1 g de erva para 100 ml de água, contém geralmente
entre 250-350 mg de sólidos solúveis do chá, sendo 30-42% do peso em catequinas
e 3-6% em cafeína”.
Portanto, o chá-verde pode
ser eficiente no processo de perda de peso, caracterizando-se como possível
estratégia terapêutica no controle do sobrepeso e da obesidade, se associado a
bons hábitos de vida.
Nota: texto de divulgação científica, não deve ser utilizado como evidência clínica. Consulte sempre um profissional da saúde antes de iniciar um tratamento.
Para Saber Mais:
Revisão
Eng. Agr. Marcos Roberto Furlan
Eng. Agr.
Daniel Garcia
AUVICHAYAPAT,
P. et al. Effectiveness of green tea on weight reduction in
obese Thais: A randomized, controlled trial. Physiology and Behavior, v. 93, n.
3, p. 486-491, 2008.
DULLOO, AG et al. Green tea and thermogenesis: interactions between
catechin-polyphenols, caffeine and sympathetic activity. International Journal
of Obesity, v. 24, n. 2, p. 252-258, 2000.
FAO,
IFAD and WFP. 2013. The State of Food Insecurity in the World 2013.
The multiple dimensions of food security. Rome, FAO. Disponível em: http://www.fao.org/docrep/018/i3434e/i3434e.pdf.
KOO, SI; NOH, SK. Green tea as an
inhibitor of the intestinal absorption of lipids: potential mechanisms for its
lipid-lowering effect. The Journal of Nutritional Biochemistry, v. 18, n. 3, p.
179-183, 2007.
NISHIYAMA, MF., et al. Chá
verde brasileiro (Camellia sinensis var assamica): efeitos do tempo de infusão,
acondicionamento da erva e forma de preparo sobre a eficiência de extração dos
bioativos e sobre a estabilidade da bebida. Ciênc. Tecnol. Aliment., Campinas,
30(Supl.1): 191-196, maio 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/cta/v30s1/29.pdf.
RUIZ,
C. O Chá. Souza Cruz, São Paulo, 2013.
TROPICOS. Missouri Botanical Garden. Disponível em: http://www.tropicos.org/Name/31600230.
WHO.
World Health Organization. World Health Statistics 2012. Geneva, Switzerland. Disponível em: http://www.who.int/gho/publications/world_health_statistics/2012/en/
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