Medicamento cultivado em soja transgênica: incoerência?

Artigo escrito em parceria com o blog Pensando Bem: http://www.pensandobem.info/

por M.Sc. Daniel Garcia,

Os vegetais possuem mecanismos capazes de prevenir e combater problemas de ordem ecológica que acometem sobre eles e que podem ser ativados por estímulos na forma de defesa constitutiva ou induzida. A primeira forma de defesa, também chamada de pré-formada, é desencadeada para inibir, principalmente, a ação de patógenos e, a segunda, só é ativada quando há de fato estímulos químicos, mecânicos ou bióticos detectados no ambiente (Menezes, 2009).

Há algumas décadas, pesquisadores da área de biotecnologia agrícola e áreas correlatas estudam transgenia, especificamente vegetal, com o objetivo de “injetar” resistência aos patógenos em grandes culturas agrícolas como milho, soja, mesmo estes sabendo elementarmente que a natureza possui a capacidade de adaptar-se. O “poder” de interferir nestes mecanismos é incoerente com a realidade ecológica, e esta modificação está ultrapassando barreiras bioéticas e seguindo num caminho que pode não ter mais volta, podendo chegar a resultados ainda não conhecidos.

O que vem chamando atenção dos pesquisadores é a capacidade de aumentar o acúmulo de um determinado componente químico cultivado em plantas transgênicas. Pesquisadores da EMBRAPA Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF) descobriram um método em que o componente químico cianovirina, uma proteína presente em algas que é capaz de impedir a multiplicação do vírus da AIDS no corpo humano, foi cultivada com eficiência em soja transgênica (EMBRAPA, 2015; vídeo 1). Segundo a pesquisa, “entre as vantagens da geração de fármacos em plantas transgênicas estão os custos mais baixos, com produção em larga escala e também com a segurança se comparada com células humanas, fungos, bactérias e animais”. Além disso, o pesquisador responsável pelo estudo, completa que “também é mais fácil de manipular o produto agrícola. A vantagem da soja ou de outro vegetal é que podemos colher e estocar” (vídeo 2).

A escassez e a falta de transparência nas pesquisas com transgênicos preocupam na medida em que não se sabe ainda com 100% de certeza o real impacto em longo prazo na saúde dos seres vivos que tiverem contato com essa tecnologia.

Até onde se pratica medicina a ponto de colocar em dúvida os verdadeiros riscos à saúde de todos seres vivos saudáveis e doentes? Será que é realmente válido produzir componentes químicos naturais com o uso de “biofábricas” transgênicas? Vale investir milhares de dólares em pesquisas para produzir fármacos transgênicos em detrimento do material genético não transgênico? O futuro pode ser promissor para a biofarmácia, mas até onde é seguro cultivar e potencializar o acúmulo de um determinado componente químico medicinal em uma planta transgênica? (Vídeo 3).

Fontes:

Embrapa, 2015. Consultado em 2015 <https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/2502191/soja-e-usada-como-biofabrica-de-proteina-contra-a-aids>

Menezes, 2009. Imunidade inata e específica em plantas. Semina: Ciências Biológicas e da Saúde, Londrina, v. 30, n. 2, p. 195-212, jul./dez. 2009.

Fapesp, 2013. Consultado em 2015 <http://revistapesquisa.fapesp.br/wp-content/uploads/2013/04/062-065_Pesquisa_206.pdf?3a6295>.

Vídeo 1 (2015): Pesquisadores da Embrapa conseguem extrair proteína que impede multiplicação do HIV. Consultado em 2015 < https://www.youtube.com/watch?v=BbOENm_wf8s>.

Vídeo 2 (2013): Nova pesquisa possibilita produção de medicamentos a partir de transgênicos. Consultado em 2015 < https://www.youtube.com/watch?v=8WB-hx4Ee2k>.

Vídeo 3 (2012): Milho transgênico provoca câncer em ratos, aponta pesquisa na França. Consultado em 2015 <http://g1.globo.com/globo-news/noticia/2012/09/milho-transgenico-provoca-cancer-em-ratos-aponta-pesquisa-na-franca.html>.

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